(Leia a postagem anterior A Casa Perfeita, antes!)
Triste história, eu sei, mas é para pensar. A frieza da máquina. Não estamos tão longe de Arthur. Cercamos-nos desde modelo cibernético de existência. Bebês que nascem de provetas, que nunca conhecem seus pais, que são um objeto privado de suas mães, pedidos por encomenda, por catálogo. Com o tempo nascerão bebês de útero artificial, e nem sequer necessitarão de mães.
Se vivemos de máquinas e para máquinas, marchamos para a grande tristeza. A palavra cibernética foi cunhada no início do século XX por Norbert Wiener. É do grego kybernetes referindo-se à timoneiro, e da mesma raiz vem o verbo “governar”. Governar o que? A mensagem. Tudo o que existe são comunicação e tradução de mensagens. Quando toco certas teclas no computador e envio uma mensagem, ele me responde com outra mensagem e, em seguida volta a ordenar. Assim há um governo, um manejo de mensagem, um leme e um timoneiro.
A nave que se conduz e é conduzida devidamente nesta interconexão de mensagens. Wiener, em seu livro Cibernética e Sociedade, denomina cibernética ao estudo de mensagens como meio de manejar aparatos ou grupos humanos. Normalmente este nivelamento
de aparatos com grupos humanos produz ofuscação e ira.
São diferentes, desde então, e ninguém tem intenção de confundi-los. O que Wiener nos ensina, justamente, é que se quisermos que o humano funcione bem, temos de aprender a manejar as mensagens e decifrá-las corretamente.
As máquinas são para nosso serviço. O outro é minha finalidade, e a máquina é um meio para avançar em conforto, em telefone, em fax, em canais de televisão. São meios da vida e não a vida. A vida a constitui o homem com outros homens no mundo dos sentimentos. Este mundo está também dominado pela teoria das mensagens. Antes a regulação vinha dada pela tradição, a religião, o autoritarismo. Agora estamos sozinhos e devemos nos regular entre nós, conhecendo nossas limitações. Seremos muito mais felizes se aprendermos o que se pode se dar e o que é impossível de ser dar. O insensato romantismo tem nos causado danos e sofrimento. A nós como pares e a nossos descendentes como filhos.
Wiener, no citado livro, escreve:
“A educação do cidadão norte americano... está calculada para protegê-lo solicitamente contra a consciência da morte e condenação. Educa-o em uma atmosfera de Papai Noel, e quando descobre que ele é um mito, chora amargamente. Nunca aceita inteiramente a ausência dessa divindade em seu panteão e gasta grande parte de sua vida em busca de um substituto emocional.”
Não podemos viver sem mitos, mas podemos rever os mitos que estão sob nossos pés e verificar, como disse Morin, quais são bons, os que nos fazem bem, e quais são ruins, que nos fazem mal. Os mitos ruins são os que prometem um paraíso que nunca podemos alcançar e convertem a existência em uma frustração constante. Um mito bom é a fé no paraíso, aqui e agora, para hoje e amanhã, para nós e para os outros, a base de trabalho, de regulação de mensagens e contenção de emoções agressivas e estímulo de atitudes criativas.
Querer é crer. Não é a casa perfeita que nos fará felizes. Somos os felizes que construímos a casa perfeita. Nossa fé. Escolhida e decidida pela liberdade. Wiener: “A ciência é um modo de vida que pode florescer somente quando os homens gozam de liberdade para ter uma fé.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário