quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A Ficção é Uma Reflexão da Realidade!


Ouvi de Bruno Barreto, em uma recente entrevista pela TV, a frase que serve de título para esta postagem.

Li o Macaco e a Essência nos anos 60, na média adolescência. Naquela época a gente lia Aldous Huxley: Admirável Mundo Novo, Portas da Percepção, A ilha; Sartre: As Palavras, A Idade da Razão, Sursis, A Prostituta Respeitosa, o Muro ( não me lembro de todos os que li, mas pela previsão de um futuro que todos sempre tememos - O Macaco e a Essencia me imprenssionou e também pela forma original como lança a história, como ensaio de uma peça teatral).

Outros: Knut Hamsun, prêmio Nobel da Literatura em 1920 (
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%AAmio_Nobel_de_Literatura) Fome, escrito em 1890 (tive dificuldade para terminar o livro e o fiz depois de completar 32 anos de idade); Frutos da Terra, escrito em 1917, não encontrei tradução e iniciei a leitura em inglês, mas infelizmente, na época, meu inglês era quase nulo; George Owell - 1984, escrito em 1948 e A Guerra dos Bichos. O surrealista Franz Kafka com o seu famoso Metamorfose.Com o passar dos anos, outros livros foram me interessando, como os policiais e os "best sellers" .

Dos livros de Ira Levin (que morreu há exatamente um ano, em novembro de 2007, aos 78 anos de idade), autor de O Bebê de Rosemary (apenas assisti ao filme sob direção de Polanski), Os Meninos do Brasil, Mulheres Perfeitas e O Beijo da Morte (também famosos nas versões cinematográficas!), Este Mundo Perfeito (This Perfect Day) foi o que mais gostei, li em 1973, e hoje, tirando alguns fatos não compatíveis, vejo que o autor, de certa forma, previa a globalização, sim! Uma Sociedade Global onde todo mundo era monitorizado por um grande computador central, o UniComp. Chamou-me atenção, na época, como meus amigos simpatizantes pelo comunismo, o que não era o meu caso, ao meu comentário, correram às livrarias para adquirir um exemplar e um, que mais tarde se tornaria político no Rio de Janeiro, propôs-me uma troca por um exemplar de Theillard de Chardin, O Fenômeno Humano.

Ernest Hemingway, prêmio Nobel de Literatura em 1954: O Velho e o Mar; Por Quem os Sinos Dobram e Adeus às Armas. Clássicos.

Esqueci de citar Bertrand Russel, Meu Pensamento Filosófico. Encontrei um site que mostra onde "baixar" alguns exemplares gratuitamente:
http://simplesmente.com/2008/01/19/russell/; e um blog que fala sobre a recente tradução de Os Problemas da Filosofia, aliás, por Desidério Murcho (http://dmurcho.com/), filósofo e professor da UFOP : http://dererummundi.blogspot.com/2008/11/os-problemas-da-filosofia-de-bertrand.html

Russell propôs, em sua autobiografia, um "código de conduta" liberal baseado em dez princípios, à maneira do decálogo cristão. "Não para substituir o antigo", diz Russell, "mas para complementá-lo".
Os dez princípios são:
1. Não tenhas certeza absoluta de nada.
2. Não consideres que valha a pena proceder escondendo evidências, pois as evidências inevitavelmente virão à luz.
3. Nunca tentes desencorajar o pensamento, pois com certeza tu terás sucesso.
4. Quando encontrares oposição, mesmo que seja de teu cônjuge ou de tuas crianças, esforça-te para superá-la pelo argumento, e não pela autoridade, pois uma vitória dependente da autoridade é irreal e ilusória.
5. Não tenhas respeito pela autoridade dos outros, pois há sempre autoridades contrárias a serem achadas.
6. Não uses o poder para suprimir opiniões que consideres perniciosas, pois as opiniões irão suprimir-te.
7. Não tenhas medo de possuir opiniões excêntricas, pois todas as opiniões hoje aceitas foram um dia consideradas excêntricas.
8. Encontres mais prazer em desacordo inteligente do que em concordância passiva, pois, se valorizas a inteligência como deverias, o primeiro será um acordo mais profundo que a segunda.
9. Sê escrupulosamente verdadeiro, mesmo que a verdade seja inconveniente, pois será mais inconveniente se tentares escondê-la.
10. Não tenhas inveja daqueles que vivem num paraíso dos tolos, pois apenas um tolo o consideraria um paraíso.


É impressionante como trocávamos ideias sobre os livros que estávamos lendo, naquela fase de adolescência! Não por moda, mas por interesse intelectual e conhecimento! Impossível lembrar-me de todos autores e títulos que tenho lido, entretanto, neste momento estou apenas relembrando uma fase importante de minha vida, de minha "escola".

Terminei de ler Neve, de Ohran Pamuk, autor turco, prêmio Nobel de Literatura em 2006. Ainda faço minhas reflexões...

domingo, 9 de novembro de 2008

Carona!



O sonho da casa própria parecia estar mais perto de se realizar para os brasileiros, principalmente para os assalariados, com o surgimento, em meados da década de 60, do Sistema Nacional da Habitação através do extinto BHN – Banco Nacional da Habitação, que teve pouco tempo de vida, extinto em 1988.

Seduzidos pela oportunidade, meus pais, que residiam no Rio Grande do Sul, adquiriram, através do novo sistema, uma casa popular no bairro Eldorado, em Contagem. Para nós, minha irmã e eu, aquele sonho era um verdadeiro pesadelo, pois além de aumentar a distância de nossos respectivos trabalhos e faculdades, nos afastava de nossa gostosa e unida turminha do Prado, na esquina da Francisco Sá com Lagoa Dourada, onde conheci os irmãos Coelho. Etelvino, hoje médico oftalmologista famoso internacionalmente e um dos pioneiros na cirurgia corretiva de miopia no Brasil; Regis, também internacional, é psicólogo especialista em terapias diversas e eficazes Cândido, que optou por Direito e a respectiva família dos rapazes, chefiada pelo maravilhoso e saudoso Dr. Delfim, ao lado de sua mulher, D. Eneida, sempre carinhosa, meiga e risonha.

Sob protestos mudamo-nos para nossa nova casa, mesmo ainda com os acabamentos por terminar, com a nossa avó “Mãe Filha”, como a chamávamos, uma vez que meus pais continuariam no sul do país onde papai, engenheiro civil, trabalhava nas obras de pavimentação da Estrada da Produção.

A mudança de residência marcou o início de uma nova e cansativa rotina. Lecionava Química e Física no Colégio Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, onde as aulas começavam às 7h e 30 min. da manhã, obrigando-me a levantar às 5 horas para não perder a carona da professora de Biologia, o que me possibilitava a chegar no horário.

Vivendo aquela rotina eu me sentia como um “zumbi”, pois estudava à noite na Escola de Engenharia Kennedy, que funcionava na Avenida Amazonas onde hoje está localizado a Expominas, cujas aulas terminavam sempre por volta das 23 horas e só conseguia ir para a cama depois da meia-noite e, para chegar mais cedo, quando sentia que o cansaço tomava conta de meu corpo, não assistia às aulas do último horário, sempre o das matérias mais “pesadas”, como era o caso de Mecânica Aplicada, cujo professor havia sido recentemente substituído.

Certa vez, quando aguardava o ônibus no ponto mais próximo de casa, que já demorava mais que o habitual e que me faria chegar atrasadíssima ao IPR - Instituto de Pesquisas Radioativas, onde eu fazia estágio no período da tarde, no setor de Metalurgia Física sob a batuta do querido professor Juarez Távora Veado, no Campus da UFMG, notei que um “Fusquinha” de cor bege, que já tinha dado uma volta no quarteirão, parara perto de mim e seu motorista me oferecia uma carona que me deixaria mais perto de meu destino.

- Desculpe-me, não tenho hábito de aceitar carona, mas o senhor me parece ser uma pessoa conhecida!

- Não seria, por acaso, das aulas de Mecânica Aplicada? Sou Edmar Mendes, seu professor na Kennedy às terças e quintas. Sem mais comentários!