Seduzidos pela oportunidade, meus pais, que residiam no Rio Grande do Sul, adquiriram, através do novo sistema, uma casa popular no bairro Eldorado, em Contagem. Para nós, minha irmã e eu, aquele sonho era um verdadeiro pesadelo, pois além de aumentar a distância de nossos respectivos trabalhos e faculdades, nos afastava de nossa gostosa e unida turminha do Prado, na esquina da Francisco Sá com Lagoa Dourada, onde conheci os irmãos Coelho. Etelvino, hoje médico oftalmologista famoso internacionalmente e um dos pioneiros na cirurgia corretiva de miopia no Brasil; Regis, também internacional, é psicólogo especialista em terapias diversas e eficazes Cândido, que optou por Direito e a respectiva família dos rapazes, chefiada pelo maravilhoso e saudoso Dr. Delfim, ao lado de sua mulher, D. Eneida, sempre carinhosa, meiga e risonha.
Sob protestos mudamo-nos para nossa nova casa, mesmo ainda com os acabamentos por terminar, com a nossa avó “Mãe Filha”, como a chamávamos, uma vez que meus pais continuariam no sul do país onde papai, engenheiro civil, trabalhava nas obras de pavimentação da Estrada da Produção.
A mudança de residência marcou o início de uma nova e cansativa rotina. Lecionava Química e Física no Colégio Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, onde as aulas começavam às 7h e 30 min. da manhã, obrigando-me a levantar às 5 horas para não perder a carona da professora de Biologia, o que me possibilitava a chegar no horário.
Vivendo aquela rotina eu me sentia como um “zumbi”, pois estudava à noite na Escola de Engenharia Kennedy, que funcionava na Avenida Amazonas onde hoje está localizado a Expominas, cujas aulas terminavam sempre por volta das 23 horas e só conseguia ir para a cama depois da meia-noite e, para chegar mais cedo, quando sentia que o cansaço tomava conta de meu corpo, não assistia às aulas do último horário, sempre o das matérias mais “pesadas”, como era o caso de Mecânica Aplicada, cujo professor havia sido recentemente substituído.
Certa vez, quando aguardava o ônibus no ponto mais próximo de casa, que já demorava mais que o habitual e que me faria chegar atrasadíssima ao IPR - Instituto de Pesquisas Radioativas, onde eu fazia estágio no período da tarde, no setor de Metalurgia Física sob a batuta do querido professor Juarez Távora Veado, no Campus da UFMG, notei que um “Fusquinha” de cor bege, que já tinha dado uma volta no quarteirão, parara perto de mim e seu motorista me oferecia uma carona que me deixaria mais perto de meu destino.
- Desculpe-me, não tenho hábito de aceitar carona, mas o senhor me parece ser uma pessoa conhecida!
- Não seria, por acaso, das aulas de Mecânica Aplicada? Sou Edmar Mendes, seu professor na Kennedy às terças e quintas. Sem mais comentários!
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