sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Morrer Outra Vez


O tilintar do telefone me acordou.

- Alô.

- Suzely, acabo de ler no jornal que Déa morreu e o enterro será daqui a pouco no Bonfim, disse-me do outro lado da linha, muito assustada, Sílvia Mileo, que na época era a presidente da então Comissão Especial da Mulher Executiva da AC Minas, hoje Conselho Empresarial da Mulher Empreendedora, onde Déa Machado Coelho (na foto com Suzely na Casa do Baile, em maio de 1990), Sílvia Mileo e eu éramos membros fundadores da CEMEX-Comissão Especial da Mulher Executiva, hoje Conselho Empresarial da Mulher Empreendedora, da AC Minas - Associação Comercial de Belo Horizonte, a convite de Maria Elvira Salles Ferreira, a primeira mulher a fazer parte da diretoria da entidade, e que seria eleita deputada estadual e federal, durante 16 anos. Atualmente preside o PMDB Mulher Nacional.

- Alô, alô, você está ouvindo? Perguntava-me ansiosa.

- Sim, respondi, sem conter as lágrimas. Vou me vestir e imediatamente seguir para o cemitério.

- Avise a todos os amigos que você se lembrar, já liguei para alguns. Já estou seguindo para o Cemitério do Bonfim.

Como num filme, as recordações de minha querida amiga passavam em minha mente. Dona da loteria “Fio de Ouro”, na Cristóvão Colombo, Savassi, Déa era uma mulher romântica, vaidosa, elegante e alegre. Cheia de vida e vontade de viver, sabia que seu problema cardíaco a levaria cedo, mas tinha pavor daquela realidade.

Chorava enquanto me vestia, pensando que pessoas ruins, mau caráter, falsas e más continuavam vivas, enquanto pessoas boas como Déa, que adorava estar rodeada por amigos, sempre alegre e divertida, partiam para sempre.

O estacionamento do Bonfim estava cheio, não foi fácil encontrar uma vaga. Corri para o velório de Déa, onde o padre já “encomendava” o corpo. De onde eu estava, conseguia apenas ver um pedacinho de nariz salientando-se no meio das flores que cobriam o corpo. Acompanhava a oração, ainda chorando, quando alguém toca meu ombro firmemente e pergunta:

- Você não está pensando que sou eu, está?

O susto foi tão grande que quase engoli o lenço de papel. Ela, vivinha, em carne e osso – a nossa Déa!

Abraçamo-nos, ela também chorava, e rimos com nossos rostos molhados pelas lágrimas.

- Puxa! Acabo de ter uma “pré-estréia” de meu velório, quando eu morrer de verdade! Quantos verdadeiros amigos vieram se despedir de mim! Disse-me ela, bastante emocionada.

Contou-me que sua ex-sogra, que estava no caixão, e ela tinham exatamente o mesmo nome e sobrenome, o que já causara confusão anteriormente, mas que se eu tivesse lido todo o anúncio fúnebre com atenção, teria percebido que ela também convidada para o funeral.

Sílvia, com certeza, lera apenas o nome em destaque no anúncio.

Depois do enterro, ainda no cemitério, os amigos que havíamos avisado, já que Sílvia pedira a todos que avisassem aos outros, cercaram Déa e carinhosamente a abraçavam.

Dois ou três anos depois Déa realmente nos deixou, após alguns dias de internação no Biocor, onde, apesar de todas as tentativas dos médicos, seu coração não resistiu. O seu segundo velório foi igualmente prestigiado!

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