sexta-feira, 24 de abril de 2009

Plácido Domingo

Segui para Nova Iorque com um grupo da CVC, pois assim economizaria no custo das passagens e conseguiria um lugar no hotel, o que seria impossível de outra forma, apesar do frio intenso parecia que todo mundo resolvera visitar Manhattan. O motivo de minha viagem era visitar e participar da Toys Fair no Javit Center, embora a maior razão fosse a de encontrar-me com minha filha que há seis meses estava morando em Niles, Illinois, onde participava de um programa de intercâmbio.

O Pensilvannia Hotel, prédio majestoso que no passado deve ter sido um dos mais belos, confortáveis e importantes hoteis da cidade, agora lotado com excursionistas de vários países e abrigando cães e seus respectivos donos para o grande concurso no Madison Square Center, exatamente em frente. O baixo custo da diária justificava a altíssima rotatividade de grupos de turistas, principalmente para nós brasileiros que comprávamos cada dólar por quase três reais.

Um erro de informação levara-me acreditar que hospedando naquele hotel eu estaria a poucas quadras do Javit Center e, portanto poderia ir a pé. Para algumas pessoas com melhores condições físicas com certeza seria um bom exercício, mas para uma fumante e assumidamente sedentária como eu na época, impossível. O recurso foi mesmo usar táxi.

Enormes corredores de foram percorridos na feira, onde não havia lugar para assentar a não ser na área de alimentação, e inúmeros estandes visitados. Pernas inchadas e pés doendo era o que eu conseguia no final do dia, além de muito cansaço, resultado também do excesso de nicotina dos quase 60 cigarros consumidos diariamente naquele período, o que me fazia andar o dobro, pois fumar era apenas permitido na rua, fora do Javit Center. Só mesmo os fumantes sabem o que são capazes de fazer por uma pitadinha! Hoje, felizmente, hábito completamente abandonado e exorcizado. Considero-me uma atleta! Aeróbica e musculação quase diariamente! E “ativista” combatente do vício.

Minha filha e eu combinamos que assistiríamos juntas apenas a um show da Broadway, uma vez que em todas as viagens a NYC costumava assistir à todos os lançamentos. Optamos por Noviça Rebelde, em estréia, ótima escolha. Depois do teatro resolvemos jantar e não é fácil escolher aonde ir “after theatre”.

Escolhemos o restaurante do famoso tenor Plácido Domingo. A “hostess” nos recebeu dizendo não haver lugares disponíveis, mas que poderíamos ficar no bar. Não concordamos e, ao perceber que nos retirávamos ela disse que nos arrumaria uma mesa no andar superior, onde era o restaurante, embora num local não muito confortável.

Grande nossa surpresa ao entrarmos no salão do restaurante onde todas as mesas estavam vazias! Deveriam ser 22h e 30 min.. Ela nos acomodou em uma pequena mesa, perto de uma coluna no meio do salão.

Sem perguntas e estranhando ainda o fato de o restaurante estar vazio, sentamo-nos e pedimos champanhe para celebrar a felicidade do encontro. A rigidez do “no smoking” fazia-me levantar e seguir para o único local permitido aos fumantes, um barzinho ao lado do salão, onde arrumei um assento perto do balcão. Foi então que ouvi duas senhoras comentando que o grande tenor chegaria qualquer momento. Não resisti e entrei na conversa:

- Ele virá mesmo?

- Sempre costuma vir depois da apresentação que está fazendo no Carnegie Hall. Estamos aqui esperando por ele. Temos vindo todas as noites!

Agradeci e voltei para a mesa, percebendo que haviam outras mesas ocupadas e a cada instante chegavam mais pessoas, lotando completamente o recinto.

Passado algum tempo, ouço aplausos, viro para trás e vejo Plácido Domingo entrando no salão e, pasmem vinha em nossa direção. Envaideci-me, pois imaginei que o famoso artista dirigia-se a mim. Emocionada, deixei cair a taça com o champanhe. O charmosíssimo tenor parou em frente a Tarsila e cumprimentou-a, sob os olhares curiosos de todos os presentes, dizendo:

- Você é linda! Que belos olhos!

- Ela é descendente de espanhóis, fui logo dizendo, tentando sei lá porque, justificar alguma coisa e emocionada o suficiente para não registrar mais nada do que ele dizia.

- Mãe, a máquina! Tire uma foto, disse-me entre os dentes.

- Não trouxe!

- Mas você nunca sai sem ela!

- É verdade, mas você não gosta que eu tire fotos!

Com este rápido diálogo aos cochichos, ficou claro que não poderíamos registrar o acontecimento!

Foi então que percebi que minha filha aos 17 anos era uma mulher feita, linda, e com toda aquela timidez “provocante” que algumas de nós têm naquela idade.

Percebi, também, que muitos olhares masculinos eram para a bela mulher que eu tinha orgulho de ser mãe.

Passado alguns anos, contava o acontecimento para um amigo norte-americano que imediatamente, após uma boa risada, informou-me que o famoso tenor era bem chegado a belas “ninfetas”!

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