terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Mudanças Possíveis e Desejáveis


Terminamos 2009 e logo concluiremos mais uma década onde presenciamos, entre tantos fatos inéditos e inesperados, a eleição de Barack Obama, o primeiro presidente afro americano dos Estados Unidos, como o negro é chamado lá no território do tio Sam, e que nós brasileiros denominamos mulato, a boa mistura de branco com negro. Famosas e aplaudidas são nossas mulatas, mulheres lindas. Já nossos mulatos e negros sobressaem-se no futebol, no carnaval e na música popular (o que mostra os talentos de uma raça com dons especiais). Lamentavelmente, ainda é insignificante o número de pessoas da raça negra que tem acesso às universidades, aos cargos públicos, às câmaras municipais e ao Congresso Nacional. Poucos tem destaque econômico-social, como consequencia de tantas barreiras ainda existentes, entretanto a competência e o merecimento sempre sobressaem independentemente de raça ou credo.

No poder judiciário, aqui no Brasil, a década também contemplou a raça quando, em 2004 a primeira mulher negra, a baiana Neuza Maria Alves da Silva, que já estava magistratura federal desde 1988, foi promovida por merecimento, para o cargo de Desembargadora junto ao Tribunal Regional Federal da 1a. Região, sediado em Brasília. Vale lembrar outra baiana que foi a primeira juíza negra em 1984, Luislinda Dias Valois Santos e o primeiro Ministro negro no Superior Tribunal da Justiça (STJ), nomeado em 2008, que foi o desembargador Benedito Gonçalves, do Rio de Janeiro. Um marco para nossa história e para nosso camuflado racismo ”à brasileira”, que cerceia, ainda, iguais oportunidades para todos, apesar das leis existentes (aliás, papel aceita tudo!). Entretanto percebemos a vitória da inteligência, competência e do merecimento.

Desde 2003 o primeiro ministro negro nomeado pelo presidente Lula para o Supremo Tribunal de Justiça (STF) tem surpreendido e agradado a maioria dos brasileiros e, para nosso orgulho, é um “filho de Minas”, sim, um mineiro de Paracatu, uai! Com um invejável currículo, Joaquim Barbosa tem sido aplaudido, como um homem de coragem, culto, brilhante e competente.

Com ideias inovadoras e enfrentando grandes desafios, ele á a favor do aborto, é contrário ao poder do Ministério Público de arquivar inquéritos administrativamente ou de presidir inquéritos policiais e, principalmente, entre tantos outros de seus posicionamentos, ele é totalmente contrário ao foro privilegiado para autoridades, o que tem o apoio da maioria dos brasileiros.

Considerando que o foro privilegiado é, como nos tem sido mostrado, sinônimo de impunidade, todos queremos acabar com esse mal. Colocar um fim nos ”mensalões”, “valeriodutos”, distribuição de “panetones” e “propinas”;"fantasmas, “laranjas”, “caixa dois”, “orações para o Durval”, “exploradores da fé” e tantos outros crimes até agora impunes. A impunidade é a semente do maior atentado contra a dignidade e segurança do povo brasileiro, assassina da ética e incentivadora da corrupção. É um câncer social.

O ano 2010 chega acenando possibilidade de mudanças. Ano eleitoral de caça ao voto. Difícil para o leitor considerando que quase todos os partidos políticos estão envolvidos em escândalos e poucos são os candidatos probidosos e idôneos, que realmente têm compromisso real com a democracia e o povo.

Que Deus nos inspire e proteja para mantermos vivas as nossas esperanças!
Feliz 2010!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma doença nada contagiosa, mas que todos teremos!

Chamava-se Francisca a minha avó. Não me lembro qual a razão de seu apelido ter sido, durante quase toda sua vida, Filha, para os familiares e amigos mais chegados.

Filha ficou viúva aos 19 anos de idade. Com 3 filhos, dois homens e uma mulher, a minha mãe, a sua primogênita, Yara, que viria a se casar aos 16 anos, dois anos mais que sua mãe, ao contrair matrimônio com Agostinho.

Com apenas 15 anos de diferença de idade entre as duas, Francisca se tornou avó de sua primeira de muitos netos, aos 32 anos de idade! Viúva, nova e bonita, mas avó! Naquela época, ser avó significava estar velha.

Assim, quando nasci e logo em seguida outro irmão, aos 35 anos de idade Francisca já ouvia o coro de suas netinhas tagarelas gritando vovó pela casa, já que o netinho era recém-nascido!
Fez um pacto com as meninas:
- Chamem-me de mamãe e de mãezinha, a sua mãe! Pacto este que ela sempre negou ter acontecido, negando sua vaidade de não denunciar sua situação de avó, publicamente.

Quando alguém nos ouvia chamar por mamãe, questionava:

- Qual das duas?
- A Filha! Respondíamos.

Aos poucos passamos a chamar nossa avó de Mãe filha! Estranho? Nem tanto, pois quando ela tornou-se, anos depois, passou a ser chamada de Vovó-mãe-filha pelos bisnetos. Para os netos mais novos ela era apenas Filha, como para a maioria da família.

Nossos amigos também a chamavam por Mãe-filha, carinhosamente, bem como seu genro e genros e nora de sua filha, bem como de seus outros filhos.

A idade não perdoa e quando o primeiro bisneto de nossa mãe-filha já estava com cinco anos de idade, ela já apresentava algumas rugas em seu rosto, talvez resultado de seu constante e quase fixo sorriso. Sempre foi uma pessoa alegre, generosa, amiga e divertida. Ótimo astral. Uma avó muito especial aquela Vovó-mãe-filha!

Estava Francisca com seu netinho, que sempre lhe fazia companhia, quando ele, depois de olhar muito para ela perguntou:

- Vovó-mãe-filha, por que seu rosto é todo cheio de amassadinhos? Que doença você tem?
Rindo muito, ela carinhosamente respondeu:

- Não é doença! São rugas. É velhice!

domingo, 18 de outubro de 2009

DEZ SUGESTÕES PARA CONVIVER BEM COM A SUA ANSIEDADE

Prof. Luiz Machado, PhD

1) Reflita sobre qual o impacto do acontecimento de sua preocupação de hoje daqui a 6 meses, daqui a 1 ano.
2) Estabeleça seu projeto de vida. O que você realmente quer da vida?
Quais são seus objetivos, com as respectivas prioridades? Preveja, isto é, veja antes o resultado que você deseja e não deseje simplesmente, mas faça que ele aconteça, com determinação, trabalho e disciplina.
3) Aprenda a confiar no SAPE, que é o seu deus interno. Ela sabe muito mais que você e certamente ajudará a resolver as dificuldades, se você lhe der oportunidade para isso.
4) Evite brigar por coisas insignificantes. Veja primeiro se vale a pena. As discussões consomem energia de preservação, de adaptação, energia vital.
5) Relaxe. Aprenda como praticar o relaxamento físico e mental.
6) Use sempre a famosa oração: "Senhor, dai-me força para mudar aquilo que posso mudar; para aceitar o que não posso mudar; discernimento, para distinguir uma coisa da outra".
7) Lembre-se: quando você sente raiva de alguém, quando você odeia alguém, a química produzida envenena seu organismo; conseqüentemente, fazendo mal a você mesmo. Por outro lado, uma pessoa com ódio, com raiva de você, só o(a) prejudicará se você entrar na sintonia dela, se levar em consideração o que ela demonstra, diz.
8) Viva mais o momento presente, com tudo de bom e belo que ele tem. O passado deve ser visto como ele é: PASSADO, e o futuro depende do que você faz hoje.
9) Pare de se ofender por qualquer coisa. As pessoas não têm o poder de nos ofender; somos nós que nos ofendemos, de acordo com os significados que atribuímos ao que nos dizem. Analise para não ofender-se.
10) Elimine a expressão "ter que" antes da enumeração do que você vai fazer. Vá fazendo... sem reclamar, sem usar o "tenho que" como lamentação.

Nota do autor: Mesmo que você não seja religioso, lembre-se que a palavra !senhor” vem do latim sênior, que significa “mais velho” e as estruturas cerebrais que constituem o SAPE; a saber, o sistema límbico e o sistema glandular são a evolução das estruturas mais velhas (primitivas) do ser humano.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Homem tem que ser Diniz!

Os horários das aulas em minha agenda eram bastante esparsos e as dificuldades financeiras bem largas naqueles anos 70 que, para pagar as mensalidades da Escola de Engenharia Kennedy, onde, com grande sacrifício eu estava na lista dos futuros engenheiros do Brasil. O futuro, entretanto, me mostraria que engenharia não era de fato a minha vocação.

A vivência com dificuldade foi para mim patrocinadora de alguns dos melhores e mais hilários momentos de minha vida. Relembro com muito carinho as aulas ministradas no Colégio Estadual Geraldo Teixeira da Costa, em Santa Luzia, onde aprendi muito mais do que ensinei! Que saudades!

Meus alunos me ensinaram que o presente é maior que o futuro. A diferença de idade entre nós quase não existia. Em meus 19 anos de idade, muita garra, idealismo e, principalmente, necessidade de ganhar a vida para pagar os custos da faculdade foram os principais fatores que fizeram de mim uma pessoa extremamente eclética ou, para ser mais precisa, polivalente!

Santa Luzia e, particularmente o Colégio Estadual Geraldo Teixeira da Costa representam importantes e significativos momentos que jamais esquecerei. Ajudaram-me a ser quem hoje sou!
Os alunos do científico não podem imaginar o grau de importância que tiveram em minha vida. Lembro-me particularmente da Amália, inteligente, espirituosa, criativa e com muita expressividade!

Na época a carioca Leila Diniz, grande expoente na vida dos brasileiros, mulher valente, independente, corajosa e leal aos seus princípios, era o grande exemplo da mulher autêntica liberada, cantada em verso e prosa e, até os dias de hoje, lembrada como a pessoa que desafiou convenções e valores morais em plena ditadura militar

Coqueiro Verde, de Erasmo Carlos anos 70, figurava entre os maiores sucessos musicais e citava a musa “como diz Leila Diniz, homem tem que ser durão”, serviu de inspiração para uma carinhosa brincadeira de meus alunos, porque meu ciumento e possessivo namorado costumava ir me buscar ao final das aulas e estacionava o seu “Jeep” de forma a ter uma boa visão da sala de aula, que cantavam: “como diz Leila Durão, homem tem que ser Diniz”, som que até hoje ecoa em meus ouvidos!

“Viver, intensamente, é você chorar, rir, sofrer, participar das coisas, achar a verdade nas coisas que faz. Encontrar em cada gesto da vida o sentido exato para que acredite nele e o sinta intensamente.”, assim se expressou Leila Diniz, dando a receita de sua autenticidade o que nos dias de hoje significa “ser você mesmo”.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

A Necessidade da Educação Cívica e Política na Infância

Os primeiros passos, as primeiras palavras e brincadeiras dos filhos são ensinadas e acompanhadas pelos pais ou pessoas por eles delegadas como babás, avós, tios ou outras pessoas que cuidam das crianças desde os primeiros meses de idade.

Aos pais cabe ensinar boas maneiras, princípios, valores, respeito ao próximo, religião, diferenças entre sexos e tantos outros ensinamentos para que seus filhos aprendam a se portar na vida.

Normalmente os pais impõem aos filhos valores morais e princípios religiosos, entretanto, quando se trata de política costumam declarar: “isto não é assunto para criança”, então o assunto vira tabu, não é discutido e só aparece anos depois, se aparecer! Assim tem sido na vida de muitas pessoas que, por não terem recebido educação política, não discutem e cumprem o dever de votar apenas pela obrigatoriedade imposta no país e sem saber ou ter critérios para escolherem seus candidatos.

Claro que política é assunto de criança, que deve ser educada para honrar seus deveres e direitos como cidadão. Para compreender o processo político é necessário compreender como funcionam os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e saber o que significa e implica eleger nossos representantes e o que a eles está determinado como missão.

Observando os últimos acontecimentos tanto nas esferas políticas, administrativas e judiciárias, que têm deixado perplexa e desacreditada a maioria da população esclarecida e as outras sem saber o significado da ética e as conseqüências que a ausência dela provoca em nossas vidas, chego à conclusão de que a primeira cartilha infantil deveria ser sobre os direitos humanos e os deveres acarretados. Depois, saber os direitos e deveres do cidadão segundo a Carta Magma da nação, bem como a importância do que ali está determinado!

Amar a pátria e respeitar os seus símbolos é conseqüência de ensinamentos e praticas que devem iniciar desde a primeira infância, como acontecia em tempos remotos, onde as crianças aprendiam e cantavam o belo hino nacional e outros de acordo com a data comemorativa. Hastear a bandeira nacional semanalmente era uma cerimônia obrigatória e, lembro-me, o fazia com orgulho e prazer.

Uma vez que estes princípios de cidadania sejam incutidos e aprendidos na infância, pode provocar o nascimento de um interesse natural pelo que acontece ao redor de cada um, bem como a observação das diferentes crenças, da avaliação do certo e errado, segundo as regras de consenso universal e o aprendizado do respeito mútuo.

A educação cívica e política desde os primeiros anos de vida é salutar para a criação de verdadeiros cidadãos conscientes de suas responsabilidades para com a pátria e seus concidadãos. Este aprendizado deve ser contínuo, evoluindo gradativamente, principalmente através do incentivo à leitura, a participação em solenidades cívicas e debates onde a opinião da criança, adolescente ou adulto seja levada em consideração e respeitada , bem como o seu direito de livre expressão e escolha. Quem aprende a se dar o respeito, respeita igualmente ao próximo.

Assim possivelmente poderemos ter cidadãos conscientes, interessados e capazes de participar ativamente da vida socioeconômica e política do país. Com conhecimento acumulado através da educação cívica, cada um poderá escolher melhor os seus representantes e governantes e, consequentemente participar do desenvolvimento da nação.

Uma longa jornada até os 16 anos quando passa, então, a ter o direito de votar.

Há de levar em conta que a carência de educação cívica e interesse político da maioria dos pais e mestres são grandes. Torna-se necessário, então, que esta lacuna seja preenchida de alguma forma.

Qualquer reforma política não será completa se não houver consciência política dos cidadãos e a melhor forma de se conseguir isto é através da educação da criança e, através de cada uma, sensibilizar e educar seus pais.

Já disse o poeta: “Criança, ama com fé e orgulho a terra em que nasceste”!

Suzely Ortênzio

terça-feira, 2 de junho de 2009

A Lamentável Consequência de Uma Fofoca

Quem ainda não assistiu ao filme Dúvida, que teve cinco indicações para o Oscar 2009, não deve perder a fabulosa interpretação de Meryl Streep que como sempre, exibe seu brilhante talento, ao lado dos não menos talentosos Amy Adams e Philip Seymour Hoffman, no papel do padre Brendan

Flynn. Num de seus sermões o padre relembra a história das penas de aves, lançadas do alto de uma torre e que foram dispersas e levadas para bem longe pelo vento, motivado pelas circunstâncias do momento. Uma vez lançadas, impossível recuperá-las. Assim é a fofoca (A fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia.(Wikipedia-pt)). Nem mesmo o arrependimento do difamador pode alterar o resultado provocado por sua perversa atitude. Nada pode mudar e a dúvida, para alguns e certeza para outros continuará para sempre. O injustiçado carregará para sempre a mágoa e o peso da injusta infâmia. A maioria das pessoas costuma afirmar: "onde há fumaça, há fogo" o que raramente é verdade! O filme, cujo roteiro é baseado em peça teatral de John Patrick Shanley que dirige o filme, é imperdível, não só pela atuação dos atores, mas, principalmente, pela lição que nos dá sobre o resultado do falso moralismo e/ou interpretação errônea e inadequada dos acontecimentos.

A perigosa disseminação de fatos sem a correta e honesta comprovação com a realidade além de nociva, pode arrasar a vida de qualquer ser humano. A inveja e o sentimento de vingança são sempre os atores principais.

Em qualquer situação devemos nos lembrar do sábio ensinamento simbolizado por três macaquinhos ou seja, sem ser omisso, ter prudência diante do mal: VER, OUVIR E CALAR!

Por falar em cinema, vale à pena assistir ao filme "De Bem com a Vida", nome em português de How About You, dirigido pelo irlandês Anthony Byrne, tendo no elenco a inglesa Hayley Atwell e entre os atores coadjuvantes e magnífica Vanessa Redgrave no papel da divertida Georgia Platts. Divertido e simples, sem qualquer efeitos especial, conta uma história sempre atual sobre nossa necessidade de adaptação às fases de nossas vidas e, principalmente sobre a arte de conviver com outras pessoas.

Para quem gosta de drama: O Casamento de Rachel com a nova "darling" de Hollywood: Anne Hatthaway sempre linda e competente, teve indicação para o Oscar 2009 por sua atuação nessa filme, perdeu para Kate Winslet. Anne, com apenas 26 anos de idade, tem um invejável currículo. Quem não se lembra do recente sucesso O Diabo Veste Prada?. Outros: Noivas em Guerra, Agente 86 e Amor e Inocência.


Prestigiando a "prata da casa", Divã é uma delícia, Lília Cabral está divina e Se Eu Fosse Você Dois, tão divertido quanto a primeira versão. Filmes que mostram uma nova fase do cinema nacional.


quinta-feira, 30 de abril de 2009

CATARSE

Há fases na vida que nossa bagagem emocional fica insuportável e nos deixa à beira de um ataque ou estresse realmente grande. Não conseguimos enfrentar o dia a dia como antes e a frustração ajuda a puxar a moral para baixo.

Ficamos mais sensíveis e vulneráveis, mas “temos” de seguir em frente puxando nossa “carroça” cada vez mais pesada. Nossa visão diminui e não conseguimos enxergar aquela famosa luzinha no fim do túnel, aliás, que túnel?

No dia anterior conversara muito com um amigo que, depois de longa vida profissional, prestes a se aposentar, havia retornado aos estudos e escolhera psicologia, como sua mulher, que já era consagrada profissional. Ouvi-o falar de seus planos para o futuro muito animado e feliz. Casamento sólido. Filhos criados. Poderia agora realizar seus sonhos.

Como ele estava prestando serviços de consultoria contábil para minha empresa, combinamos que nos encontraríamos na manhã seguinte às oito horas para continuarmos, pois já passava das dezessete horas e ele tinha outro compromisso. Assim nos despedimos.

Acordei com o barulho do telefone. O relógio marcava seis horas e trinta minutos e já era mesmo hora de levantar.

-Alô.

-Suzely, disse-me a pessoa do outro lado da linha, percebi que chorava pelo tom da voz e suspiros, nosso amigo morreu, continuou.

-Como? Perguntei, também começando a chorar, o que era fácil para mim na época.

-Um enfarte fulminante nesta madrugada. O corpo já seguiu para o Parque da Colina.

-Vou me aprontar e sigo para lá. Obrigada por avisar.

Chorando, segui feito um robô a rotina de quem se levanta: banheiro, banho, higiene bucal, secador e escova nos cabelos. Closet: escolha mecânica do que vestir e calçar. Pronto. Agora a bolsa e as chaves do carro.

Sem conseguir conter as lágrimas, lembrava-me de seus sonhos! Como pode acontecer esta interrupção repentina na vida de uma pessoa com tantas coisas ainda por realizar? Ele estava feliz. Talvez tenha sido uma boa hora e, sem sofrimento! Bem, não podemos garantir que não houve dor, dizem que a dor do enfarte é muito forte. Insuportável. Coitado. Que injustiça. Ele merecia viver e concluir seus planos.

Com os pensamentos embaralhados e sem sequencia lógica, já estava no carro, sem mesmo tomar café, sem falar com meus filhos, que deixei aos cuidados da babá. Dirigi-me para o cemitério.

Estacionei o carro e segui para o velório onde estava escrito o nome do meu velho amigo. Conheci-o quando acabara de entrar para a Escola de Engenharia e trabalhava em uma empresa onde ele prestava serviços. Ensinou-me muitas coisas.

Meu Deus! É inacreditável, pensei ao olhar para o corpo estendido no caixão, cercado de flores. Só dava para ver as mãos e a cabeça. Era ele mesmo. Parecia dormir.

Chorando muito coloquei minhas mãos sobre as dele e senti o frio cadavérico. Chorei mais alto e compulsivamente, tal como aquelas velhas “carpideiras” vestidas de preto nos filmes antigos. Não conseguia me controlar e soluçava ainda mais alto, atraindo olhares.

A família do morto veio me consolar.

-Não sabia que você gostava tanto assim dele, disse-me a viúva ao lado dos filhos.

Alguém me ofereceu um pouco de água, que recusei, mas um dos filhos me levou à cantina para tomar um café. Mesmo assim não conseguia interromper meu choro.

Antes mesmo de terminar o funeral, voltei para o carro e iniciei o retorno para casa. Não iria para o trabalho, decidira.

Parei de chorar, enxuguei o rosto. Sentia-me aliviada. De repente veio-me a imagem do velório, e do meu “show”. Comecei a rir. A família que eu deveria dar minhas condolências me consolara! Pensei sobre o que as pessoas poderiam ter imaginado ao presenciar a cena: “ah, esta aí com certeza deve ter sido caso dele, bem mais jovem, coitada da viúva”, “aposto que era amante dele” ou “coitada, será que é parente da família?” e talvez muitos outros prováveis comentários hilários que agora me faziam rir muito. Nossa imaginação é fantástica!

-Que horror, Suzely, disse a mim mesma, seu amigo debaixo da terra e você aqui rindo feito louca. Não conseguia mais ficar triste. Havia chorado todas as lágrimas por muitos motivos junto com a morte dele e desabafado tudo o que me afogava e me pesava. Estava mesmo sentindo a leveza de quem “lavou” a alma, renovada. Uma verdadeira e autêntica “catarse”.

Liguei o rádio e cantarolei junto com Irene Cara, “What a Feeling”, incrível, não?


PS: “Catarse é uma poderosa experiência que pode ser entendida psicologicamente como alívio quando partes da mente e da alma são unidas.Adam Blatner,MD