terça-feira, 2 de junho de 2009

A Lamentável Consequência de Uma Fofoca

Quem ainda não assistiu ao filme Dúvida, que teve cinco indicações para o Oscar 2009, não deve perder a fabulosa interpretação de Meryl Streep que como sempre, exibe seu brilhante talento, ao lado dos não menos talentosos Amy Adams e Philip Seymour Hoffman, no papel do padre Brendan

Flynn. Num de seus sermões o padre relembra a história das penas de aves, lançadas do alto de uma torre e que foram dispersas e levadas para bem longe pelo vento, motivado pelas circunstâncias do momento. Uma vez lançadas, impossível recuperá-las. Assim é a fofoca (A fofoca consiste no ato de fazer afirmações não baseadas em fatos concretos, especulando em relação à vida alheia.(Wikipedia-pt)). Nem mesmo o arrependimento do difamador pode alterar o resultado provocado por sua perversa atitude. Nada pode mudar e a dúvida, para alguns e certeza para outros continuará para sempre. O injustiçado carregará para sempre a mágoa e o peso da injusta infâmia. A maioria das pessoas costuma afirmar: "onde há fumaça, há fogo" o que raramente é verdade! O filme, cujo roteiro é baseado em peça teatral de John Patrick Shanley que dirige o filme, é imperdível, não só pela atuação dos atores, mas, principalmente, pela lição que nos dá sobre o resultado do falso moralismo e/ou interpretação errônea e inadequada dos acontecimentos.

A perigosa disseminação de fatos sem a correta e honesta comprovação com a realidade além de nociva, pode arrasar a vida de qualquer ser humano. A inveja e o sentimento de vingança são sempre os atores principais.

Em qualquer situação devemos nos lembrar do sábio ensinamento simbolizado por três macaquinhos ou seja, sem ser omisso, ter prudência diante do mal: VER, OUVIR E CALAR!

Por falar em cinema, vale à pena assistir ao filme "De Bem com a Vida", nome em português de How About You, dirigido pelo irlandês Anthony Byrne, tendo no elenco a inglesa Hayley Atwell e entre os atores coadjuvantes e magnífica Vanessa Redgrave no papel da divertida Georgia Platts. Divertido e simples, sem qualquer efeitos especial, conta uma história sempre atual sobre nossa necessidade de adaptação às fases de nossas vidas e, principalmente sobre a arte de conviver com outras pessoas.

Para quem gosta de drama: O Casamento de Rachel com a nova "darling" de Hollywood: Anne Hatthaway sempre linda e competente, teve indicação para o Oscar 2009 por sua atuação nessa filme, perdeu para Kate Winslet. Anne, com apenas 26 anos de idade, tem um invejável currículo. Quem não se lembra do recente sucesso O Diabo Veste Prada?. Outros: Noivas em Guerra, Agente 86 e Amor e Inocência.


Prestigiando a "prata da casa", Divã é uma delícia, Lília Cabral está divina e Se Eu Fosse Você Dois, tão divertido quanto a primeira versão. Filmes que mostram uma nova fase do cinema nacional.


quinta-feira, 30 de abril de 2009

CATARSE

Há fases na vida que nossa bagagem emocional fica insuportável e nos deixa à beira de um ataque ou estresse realmente grande. Não conseguimos enfrentar o dia a dia como antes e a frustração ajuda a puxar a moral para baixo.

Ficamos mais sensíveis e vulneráveis, mas “temos” de seguir em frente puxando nossa “carroça” cada vez mais pesada. Nossa visão diminui e não conseguimos enxergar aquela famosa luzinha no fim do túnel, aliás, que túnel?

No dia anterior conversara muito com um amigo que, depois de longa vida profissional, prestes a se aposentar, havia retornado aos estudos e escolhera psicologia, como sua mulher, que já era consagrada profissional. Ouvi-o falar de seus planos para o futuro muito animado e feliz. Casamento sólido. Filhos criados. Poderia agora realizar seus sonhos.

Como ele estava prestando serviços de consultoria contábil para minha empresa, combinamos que nos encontraríamos na manhã seguinte às oito horas para continuarmos, pois já passava das dezessete horas e ele tinha outro compromisso. Assim nos despedimos.

Acordei com o barulho do telefone. O relógio marcava seis horas e trinta minutos e já era mesmo hora de levantar.

-Alô.

-Suzely, disse-me a pessoa do outro lado da linha, percebi que chorava pelo tom da voz e suspiros, nosso amigo morreu, continuou.

-Como? Perguntei, também começando a chorar, o que era fácil para mim na época.

-Um enfarte fulminante nesta madrugada. O corpo já seguiu para o Parque da Colina.

-Vou me aprontar e sigo para lá. Obrigada por avisar.

Chorando, segui feito um robô a rotina de quem se levanta: banheiro, banho, higiene bucal, secador e escova nos cabelos. Closet: escolha mecânica do que vestir e calçar. Pronto. Agora a bolsa e as chaves do carro.

Sem conseguir conter as lágrimas, lembrava-me de seus sonhos! Como pode acontecer esta interrupção repentina na vida de uma pessoa com tantas coisas ainda por realizar? Ele estava feliz. Talvez tenha sido uma boa hora e, sem sofrimento! Bem, não podemos garantir que não houve dor, dizem que a dor do enfarte é muito forte. Insuportável. Coitado. Que injustiça. Ele merecia viver e concluir seus planos.

Com os pensamentos embaralhados e sem sequencia lógica, já estava no carro, sem mesmo tomar café, sem falar com meus filhos, que deixei aos cuidados da babá. Dirigi-me para o cemitério.

Estacionei o carro e segui para o velório onde estava escrito o nome do meu velho amigo. Conheci-o quando acabara de entrar para a Escola de Engenharia e trabalhava em uma empresa onde ele prestava serviços. Ensinou-me muitas coisas.

Meu Deus! É inacreditável, pensei ao olhar para o corpo estendido no caixão, cercado de flores. Só dava para ver as mãos e a cabeça. Era ele mesmo. Parecia dormir.

Chorando muito coloquei minhas mãos sobre as dele e senti o frio cadavérico. Chorei mais alto e compulsivamente, tal como aquelas velhas “carpideiras” vestidas de preto nos filmes antigos. Não conseguia me controlar e soluçava ainda mais alto, atraindo olhares.

A família do morto veio me consolar.

-Não sabia que você gostava tanto assim dele, disse-me a viúva ao lado dos filhos.

Alguém me ofereceu um pouco de água, que recusei, mas um dos filhos me levou à cantina para tomar um café. Mesmo assim não conseguia interromper meu choro.

Antes mesmo de terminar o funeral, voltei para o carro e iniciei o retorno para casa. Não iria para o trabalho, decidira.

Parei de chorar, enxuguei o rosto. Sentia-me aliviada. De repente veio-me a imagem do velório, e do meu “show”. Comecei a rir. A família que eu deveria dar minhas condolências me consolara! Pensei sobre o que as pessoas poderiam ter imaginado ao presenciar a cena: “ah, esta aí com certeza deve ter sido caso dele, bem mais jovem, coitada da viúva”, “aposto que era amante dele” ou “coitada, será que é parente da família?” e talvez muitos outros prováveis comentários hilários que agora me faziam rir muito. Nossa imaginação é fantástica!

-Que horror, Suzely, disse a mim mesma, seu amigo debaixo da terra e você aqui rindo feito louca. Não conseguia mais ficar triste. Havia chorado todas as lágrimas por muitos motivos junto com a morte dele e desabafado tudo o que me afogava e me pesava. Estava mesmo sentindo a leveza de quem “lavou” a alma, renovada. Uma verdadeira e autêntica “catarse”.

Liguei o rádio e cantarolei junto com Irene Cara, “What a Feeling”, incrível, não?


PS: “Catarse é uma poderosa experiência que pode ser entendida psicologicamente como alívio quando partes da mente e da alma são unidas.Adam Blatner,MD

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Plácido Domingo

Segui para Nova Iorque com um grupo da CVC, pois assim economizaria no custo das passagens e conseguiria um lugar no hotel, o que seria impossível de outra forma, apesar do frio intenso parecia que todo mundo resolvera visitar Manhattan. O motivo de minha viagem era visitar e participar da Toys Fair no Javit Center, embora a maior razão fosse a de encontrar-me com minha filha que há seis meses estava morando em Niles, Illinois, onde participava de um programa de intercâmbio.

O Pensilvannia Hotel, prédio majestoso que no passado deve ter sido um dos mais belos, confortáveis e importantes hoteis da cidade, agora lotado com excursionistas de vários países e abrigando cães e seus respectivos donos para o grande concurso no Madison Square Center, exatamente em frente. O baixo custo da diária justificava a altíssima rotatividade de grupos de turistas, principalmente para nós brasileiros que comprávamos cada dólar por quase três reais.

Um erro de informação levara-me acreditar que hospedando naquele hotel eu estaria a poucas quadras do Javit Center e, portanto poderia ir a pé. Para algumas pessoas com melhores condições físicas com certeza seria um bom exercício, mas para uma fumante e assumidamente sedentária como eu na época, impossível. O recurso foi mesmo usar táxi.

Enormes corredores de foram percorridos na feira, onde não havia lugar para assentar a não ser na área de alimentação, e inúmeros estandes visitados. Pernas inchadas e pés doendo era o que eu conseguia no final do dia, além de muito cansaço, resultado também do excesso de nicotina dos quase 60 cigarros consumidos diariamente naquele período, o que me fazia andar o dobro, pois fumar era apenas permitido na rua, fora do Javit Center. Só mesmo os fumantes sabem o que são capazes de fazer por uma pitadinha! Hoje, felizmente, hábito completamente abandonado e exorcizado. Considero-me uma atleta! Aeróbica e musculação quase diariamente! E “ativista” combatente do vício.

Minha filha e eu combinamos que assistiríamos juntas apenas a um show da Broadway, uma vez que em todas as viagens a NYC costumava assistir à todos os lançamentos. Optamos por Noviça Rebelde, em estréia, ótima escolha. Depois do teatro resolvemos jantar e não é fácil escolher aonde ir “after theatre”.

Escolhemos o restaurante do famoso tenor Plácido Domingo. A “hostess” nos recebeu dizendo não haver lugares disponíveis, mas que poderíamos ficar no bar. Não concordamos e, ao perceber que nos retirávamos ela disse que nos arrumaria uma mesa no andar superior, onde era o restaurante, embora num local não muito confortável.

Grande nossa surpresa ao entrarmos no salão do restaurante onde todas as mesas estavam vazias! Deveriam ser 22h e 30 min.. Ela nos acomodou em uma pequena mesa, perto de uma coluna no meio do salão.

Sem perguntas e estranhando ainda o fato de o restaurante estar vazio, sentamo-nos e pedimos champanhe para celebrar a felicidade do encontro. A rigidez do “no smoking” fazia-me levantar e seguir para o único local permitido aos fumantes, um barzinho ao lado do salão, onde arrumei um assento perto do balcão. Foi então que ouvi duas senhoras comentando que o grande tenor chegaria qualquer momento. Não resisti e entrei na conversa:

- Ele virá mesmo?

- Sempre costuma vir depois da apresentação que está fazendo no Carnegie Hall. Estamos aqui esperando por ele. Temos vindo todas as noites!

Agradeci e voltei para a mesa, percebendo que haviam outras mesas ocupadas e a cada instante chegavam mais pessoas, lotando completamente o recinto.

Passado algum tempo, ouço aplausos, viro para trás e vejo Plácido Domingo entrando no salão e, pasmem vinha em nossa direção. Envaideci-me, pois imaginei que o famoso artista dirigia-se a mim. Emocionada, deixei cair a taça com o champanhe. O charmosíssimo tenor parou em frente a Tarsila e cumprimentou-a, sob os olhares curiosos de todos os presentes, dizendo:

- Você é linda! Que belos olhos!

- Ela é descendente de espanhóis, fui logo dizendo, tentando sei lá porque, justificar alguma coisa e emocionada o suficiente para não registrar mais nada do que ele dizia.

- Mãe, a máquina! Tire uma foto, disse-me entre os dentes.

- Não trouxe!

- Mas você nunca sai sem ela!

- É verdade, mas você não gosta que eu tire fotos!

Com este rápido diálogo aos cochichos, ficou claro que não poderíamos registrar o acontecimento!

Foi então que percebi que minha filha aos 17 anos era uma mulher feita, linda, e com toda aquela timidez “provocante” que algumas de nós têm naquela idade.

Percebi, também, que muitos olhares masculinos eram para a bela mulher que eu tinha orgulho de ser mãe.

Passado alguns anos, contava o acontecimento para um amigo norte-americano que imediatamente, após uma boa risada, informou-me que o famoso tenor era bem chegado a belas “ninfetas”!

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Seguir o Líder.

Muito tem sido escrito sobre líder e a arte da liderança. Conceitos, definições, conselhos, sugestões, casos de sucesso e artigos que, antes de ser útil ao leitor, pode estar lhe trazendo dúvidas e confusão.

Pior que a ignorância sobre certos assuntos é a total inutilidade que, se não for bem compreendida e assimilada, a informação pode ter, face àquela que realmente acrescenta e faz a diferença na qualidade de seu interesse e trabalho.

O volume de informações, algumas até conflitantes, disponíveis, por exemplo, no World Wide Web (WWW) a “Rede de Alcance Mundial”, que completou 20 anos em março, é uma tela em branco onde "As pessoas estão sempre inventando coisas novas e maravilhosas, que não poderíamos imaginar", segundo o britânico Berners-Lee, também conhecido como "pai da web".

Realmente, viajar por este mundo fascinante, descobrir coisas e adquirir novos conhecimentos pode ser proveitoso, mas pode ser também bastante nocivo. Isto é, qualquer pessoa pode inserir definições, artigos e informações técnicas que podem não ter nenhuma comprovação científica sendo, apenas, uma expressão do autor, seu ponto de vista. É importante verificar a confiabilidade do site visitado.

Qual seria a melhor definição para líder? Em alemão führer significa o “condutor”, “guia” ou “líder” e o grande Führer foi Adolf Hitler que, com sua capacidade e habilidade motivou, influenciou e conduziu pessoas a seguirem suas idéias fazendo-o figurar como o protagonista de um dos maiores horrores da humanidade. Para os indianos Gandhi foi o grande líder que, através da não-violência e da busca pela verdade iniciou uma marcha que lhes traria a independência em 1947. Sem considerar os aspectos morais, ambos são exemplos de grandes e poderosos líderes.

Embora aparentemente tenham sido ativistas de forma oposta, já que um foi pacifista e outro belicista, ambos comandaram grande número de pessoas, provocando dramáticas e significativas mudanças que repercutem até o presente em todo planeta. Possuíam características comuns como a determinação, visão, propósito, dom especial de captar e atrair a atenção de seus ouvintes e impregnar suas mentes com suas mensagens e idéias que fascinavam e os faziam a aceitá-los como seus respectivos líderes, que obedeciam e seguiam pelo poder da influência, do domínio, da manipulação, do carisma e do magnetismo pessoal.

Então podemos dizer que líder é alguém que possui seguidores, é um condutor de pessoas. Liderança é o processo de conduzir um grupo de pessoas. É a habilidade de motivar e influenciar os liderados para que contribuam, voluntariamente, da melhor forma com os objetivos do grupo ou de uma organização. As pessoas seguem o líder motivadas por suas características peculiares e por sua capacidade de influenciá-las.

O passado nos deixou vários grandes líderes, cujos feitos são ainda lições para todos nós, tanto por seus acertos como por seus erros.

Hoje a ausência de líderes é uma das maiores ameaças no mundo atual.

terça-feira, 31 de março de 2009

A Casa Perfeita II - Algo Mais Que Tecnologia -


(Leia a postagem anterior A Casa Perfeita, antes!)

Triste história, eu sei, mas é para pensar. A frieza da máquina. Não estamos tão longe de Arthur. Cercamos-nos desde modelo cibernético de existência. Bebês que nascem de provetas, que nunca conhecem seus pais, que são um objeto privado de suas mães, pedidos por encomenda, por catálogo. Com o tempo nascerão bebês de útero artificial, e nem sequer necessitarão de mães.

Se vivemos de máquinas e para máquinas, marchamos para a grande tristeza. A palavra cibernética foi cunhada no início do século XX por Norbert Wiener. É do grego kybernetes referindo-se à timoneiro, e da mesma raiz vem o verbo “governar”. Governar o que? A mensagem. Tudo o que existe são comunicação e tradução de mensagens. Quando toco certas teclas no computador e envio uma mensagem, ele me responde com outra mensagem e, em seguida volta a ordenar. Assim há um governo, um manejo de mensagem, um leme e um timoneiro.

A nave que se conduz e é conduzida devidamente nesta interconexão de mensagens. Wiener, em seu livro Cibernética e Sociedade, denomina cibernética ao estudo de mensagens como meio de manejar aparatos ou grupos humanos. Normalmente este nivelamento

de aparatos com grupos humanos produz ofuscação e ira.

São diferentes, desde então, e ninguém tem intenção de confundi-los. O que Wiener nos ensina, justamente, é que se quisermos que o humano funcione bem, temos de aprender a manejar as mensagens e decifrá-las corretamente.

As máquinas são para nosso serviço. O outro é minha finalidade, e a máquina é um meio para avançar em conforto, em telefone, em fax, em canais de televisão. São meios da vida e não a vida. A vida a constitui o homem com outros homens no mundo dos sentimentos. Este mundo está também dominado pela teoria das mensagens. Antes a regulação vinha dada pela tradição, a religião, o autoritarismo. Agora estamos sozinhos e devemos nos regular entre nós, conhecendo nossas limitações. Seremos muito mais felizes se aprendermos o que se pode se dar e o que é impossível de ser dar. O insensato romantismo tem nos causado danos e sofrimento. A nós como pares e a nossos descendentes como filhos.

Wiener, no citado livro, escreve:

“A educação do cidadão norte americano... está calculada para protegê-lo solicitamente contra a consciência da morte e condenação. Educa-o em uma atmosfera de Papai Noel, e quando descobre que ele é um mito, chora amargamente. Nunca aceita inteiramente a ausência dessa divindade em seu panteão e gasta grande parte de sua vida em busca de um substituto emocional.”

Não podemos viver sem mitos, mas podemos rever os mitos que estão sob nossos pés e verificar, como disse Morin, quais são bons, os que nos fazem bem, e quais são ruins, que nos fazem mal. Os mitos ruins são os que prometem um paraíso que nunca podemos alcançar e convertem a existência em uma frustração constante. Um mito bom é a fé no paraíso, aqui e agora, para hoje e amanhã, para nós e para os outros, a base de trabalho, de regulação de mensagens e contenção de emoções agressivas e estímulo de atitudes criativas.

Querer é crer. Não é a casa perfeita que nos fará felizes. Somos os felizes que construímos a casa perfeita. Nossa fé. Escolhida e decidida pela liberdade. Wiener: “A ciência é um modo de vida que pode florescer somente quando os homens gozam de liberdade para ter uma fé.”


quarta-feira, 25 de março de 2009

A Casa Perfeita - do livro "Para quererte mejor"

Jaime Barylko (*)

Arthur Clarke se volta para o futuro e imagina uma história do ano 2019, quando o homem estaria vivendo totalmente absorvido em um mundo de aparatos, autômatos, robôs e computadores.

Existe um personagem que se chama Arthur. Na realidade, não se trata de um ser humano, mas de uma casa. Sim, uma casa inteligente. Enfim, personagem, porque fala, dialoga, se comunica, atua, reage.

Pela manhã, Arthur abre as persianas, prepara o café, anuncia a temperatura, põe música clássica. Arthur, esta casa inteligente e perfeita, também faz a ambientação que o cliente desejar. Repentinamente o faz sentir ventos, calor, ou lua cheia. Gradua a temperatura a seu gosto, se quer dormir nu ou com três cobertores.

Samuel Palmerstone é o nome do habitante da casa. Na realidade, deveria ser dito, o amigo de Arthur. Afinal é o que são, amigos. Um pede, o outro lhe dá; um pergunta, o outro aconselha. Amigos. Um dia se conheceram e foram se amoldando um ao outro.

“A Arthur custou vários meses para conhecer Palmerstone e ajustar a programação da casa e seus estados de ânimo, rotinas, gostos e manias...”

Com o tempo, está claro, foram se conhecendo e cultivando a amizade que ocorre com a convivência. Arthur “também se encarregava de acompanhar seus negócios e tinha autorização para comprar ou vender os estoques da Palmerstone quando os preços ultrapassassem certos limiares”.

Porém nada é eterno. Ocorreu a fadiga. Palmerstone se cansou de tanta perfeição. Parece que a perfeição pode aborrecer e ser cansativa. De modo que Palmerstone um belo dia decidiu mudar-se deste bairro suburbano onde vivia sozinho e solicitou um posto de trabalho em plena Filadélfia.

“Isto lhe atraía muito. Aqui dezenas de profissionais, arquitetos, advogados, escritores, banqueiros e, inclusive um pintor, viviam sob o mesmo teto...”

Outro sistema de vida, enfim. Com gente, com outros seres humanos. Talvez menos perfeitos, mas algo mais emotivo. Claro que Arthur se inteirou de que seu amigo ia o abandonar. Ele o queria muito, ficou muito triste e não estava disposto a ficar sozinho. Sentia-se traído.

Haviam sido tão amigos e agora, de repente, unilateralmente, Palmerstone decide retirar-se e esquecê-lo. Arthur não podia suportar esta situação. Encheu-se de cólera e, uma noite, Palmerstone lhe pediu alguma coisa fresca, Arthur lhe deu, mas quando Palmerstone dormiu a casa continuou produzindo frio cada vez mais e assim foi como o encontraram no outro dia, morto, congelado.
(Continua na próxima postagem com texto complementar - Algo Mais Que Tecnologia)

(*) Jaime Barylko - filósofo e escritor, nasceu (1936) e morreu (dezembro,2002) em Buenos Aires. Doutor em Filosofia pela Universidade Nacional de La Plata. A maioria de seus livros tornaram-se bestsellers. Sua última obra foi publicada em 2002: Los Valores y Las Virtudes.

Nota:
Em 1997 quando me encontrava em Buenos Aires para a passagem de ano, assistia a um programa de TV quando anunciavam o lançamento do livro "Para quererte mejor - Ese difícil arte de Amar y ser feliz", de Jaime Baylko, que era o meu questionamento do momento, bem como o de minha amiga que viajava comigo. No dia seguinte saímos feitos loucas atrás de dois exemplares. Em 1998, por ocasião de um evento da Construção Civil - EMARCON, que promovia no Shopping Ponteio, contatei o escritor para fazer uma palestra. Concordou, mas no dia que deveria embarcar para Belo Horizonte, ele me telefonou dizendo que não poderia vir, pois o parto de sua nora grávida havia sido antecipado e, através de uma cesariana seu neto chegaria ao mundo e nada, nada mesmo o tiraria de perto de seu filho e dela para receber o novo membro da família. Quatro anos depois soube de seu falecimento, em 2002.

terça-feira, 17 de março de 2009

Minha Querida Amiga é "Chef"!

Adoro pessoas versáteis, ecléticas, polivalentes e dinâmicas, são a minha "cara"! A curiosidade me faz interessar por vários e diversos assuntos. Nasci pesquisadora, realmente um "must" em minha vida que não é, nunca foi e nunca será monótona.

Assim e muito mais é, também, minha querida amiga Cátia Vasconcelos. Incrível. Quem a conhece sabe que não estou exagerando. Encara positivamente os altos e baixos da vida com um sorriso estampado no rosto. Uma verdadeira vencedora.

Lobista assumida desde os tempos que "lobby" no Brasil não era visto (embora existisse escancaradamente) com bons olhos. Nos últimos anos, com as mudanças ocorridas nas esferas governamentais, vários escritórios de assessoria parlamentar em Brasília foram fechando as portas. Sabiamente Cátia apenas encolheu um pouco o seu.

Advogada, dona de um invejável currículo profissional, locomotiva dos interesses das mulheres em todas as áreas, ex-presidente do CNDM-Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (fiz parte do seu conselho). Conseguiu inúmeros recursos e batalhou para elevar o CNDM em nível de Ministério! Muito plantou e as sucessoras colhem até hoje os frutos de um árduo e incansável trabalho. Não vou aqui falar de sua biografia profissional, mas, literalmente, de uma deliciosa mudança! Descanso, para quem trabalha muito é "carregar pedras", será? Mais ou menos. Minha amiga matriculou-se no curso de Gastronomia do Instituto de Educação Superior de Brasília e no dia 13/03/2009 coroou seu sacrifício (ou diversão?) recebendo seu diploma e agora é a grande Chef Cátia Vasconcelos, a avó e companheira de quatro netos. Como não podia deixar de ser, ela foi a oradora da turma. Eis na íntegra o seu discurso:


"A idéia de homenagear as mulheres nesta solenidade deve-se a três motivos:
O primeiro, porque nessa semana, em todo o mundo comemora-se o Dia Internacional da Mulher, reverenciando a memória das 129 operárias das indústrias têxteis e de confecção que morreram queimadas ao promoveram a primeira greve reivindicatória. Trabalhadoras corajosas que tiveram a audácia de se insurgirem contra a ordem social reinante e as discriminações impostas pelo modelo patriarcal.

O segundo, para resgatar um equívoco cometido por um grande chef brasileiro de renome internacional, aqui neste auditório, sobre a participação feminina no mundo mágico da gastronomia e no comando de grandes restaurantes.

O terceiro e mais importante é o fato de estarmos assistindo a ascensão profissional da mulher no mundo dos aromas, sabores e do seu refinamento na preparação de comidas. Hoje ela constitui a maioria nos cursos oficiais de gastronomia. Ocorre o mesmo no terreno da enologia. Há pouco tempo, os cursos avançados sobre vinhos tinham no máximo 20% de alunas. Atualmente, de acordo com a Associação Brasileira de Sommeliers, as mulheres correspondem a 50% dos inscritos.Nós mulheres não somos apenas mais da metade da população do Brasil. Somos as responsáveis pela geração da vida e dos cuidados com os filhos. E a alimentação ocupa lugar de destaque na saúde e bem estar da família.

Dizem os historiadores que a gastronomia iniciou-se na era paleolítica quando o homem desceu das árvores para caçar. Índia, África, Arábia, Japão, China e a Itália dos Romanos foram os precursores da diversificação de tipos de comida. No ano de 1669, o rei Louis de França casou-se com a italiana Catherine de Médicis, esta a rainha das panelas. Em 1748, surgiu em solo francês um jovem talentoso de nome ANTOINE CARÊME que, aos 17 anos de idade foi designado o cozinheiro oficial do palácio Champps-Elisée. Em 1811, Brillat-Savarin revelou-se além de diplomata, um grande cozinheiro. Em 1885, um dos maiores cozinheiros do Mundo, AUGUST SCOUFFIER escreveu o código de todos os itens da cozinha que revolucionou o refinamento na preparação de comidas. A partir de 1960, o reformista culinarista PAUL BOCUSE e seus colegas criaram a polêmica NOUVELLE CUISINE FRANÇAISE inovando os pratos.

Agora, o grande hit do momento é o chef catalão Ferran Adrià mestre da cozinha da desconstrução.Para ele,”a cozinha é o lugar para expressar harmonia, criatividade, felicidade, beleza, poesia,complexidade, magia, humor, provocação e cultura.”

De Carême a Adrià, a cozinha elaborada e pensada sempre esbarrou nas artes plásticas. Seja a partir da estética apurada na montagem de pratos e banquetes ou do objetivo comum de despertar os sentidos de quem come, assim como de quem aprecia uma obra de arte.

Em um breve retrocesso histórico verificamos que desde o começo dos tempos, a mulher trabalhou. As tarefas eram bem definidas: ao homem, caça e pesca, e à mulher, filhos e cozinha. Mesmo com uma vida social cada vez mais complexa, essa relação da mulher com seu fogão permaneceu estável. Receitas de família são passadas mãe pra filha. E pretas velhas quituteiras, comandando a cozinha, são lembranças que ficarão para sempre. Apesar de tão estreita relação, quase todos os grandes chefes de cozinha são... Homens

Uma das batalhas do movimento feminista foi tirar as mulheres da cozinha. Afastá-las daquele ambiente engordurado e do fardo de prestar um serviço desvalorizado pela sociedade. Muitas desataram o nó do avental para ir trabalhar fora. Desde então, nunca mais pensaram na mais simbólica das tarefas domésticas. Passaram-se os anos e elas estão de volta à beira do fogão. Detalhe: animadíssimas. Mudaram as mulheres?

Não, foi a culinária que mudou. Aliás, que culinária, que nada. Agora, ir à cozinha é exercitar-se na arte da gastronomia. O cheiro de alho nas mãos, a frigideira engordurada ou o talher com cabo de madeira viraram realidade do passado. As mulheres retornaram à cozinha para lidar com utensílios inacreditáveis, temperos raros, eletrodomésticos caríssimos, receitas elaboradas e, sobretudo desobrigadas de preparar o arroz com feijão cotidiano. Nesse tradicional feudo feminino, cada vez mais, são homens que vão ao fogão.

Bem-vinda seja, pois, a democracia culinária, que nos proporcionou durante o curso a convivência amiga, cordial e fraterna com os nossos queridos colegas do sexo masculino, tão bem representados por Clóvis e Beto.

A presença de chefes mulheres nos restaurantes, começou apenas em princípio do século passado, na França.A primeira mulher da história a receber as três estrelas Michelin foi Madame Eugénie Brazier. Seu restaurante ficava a 29 km de Lyon. Conta-se que, em 1946, Paul Bocuse, que tinha na época 20 anos, foi de bicicleta pedir um emprego. Mme Brazier achou o garoto corajoso por ter feito o percurso de bicicleta e lhe deu o trabalho.

A cozinha dos restaurantes ganha, cada vez mais, um temperinho com pitadas de batom, perfume e muito charme.

No Brasil, elas chefiam 15% dos restaurantes. Destaque em Brasília para Mara Alcamin, Patronesse da nossa turma, que, com seu trabalho criativo e inovador servirá de estímulo aos formandos que disputarão este concorrido mercado de trabalho. Carla Pernambuco, Ana Luiza Trajano, Alice, Flavia Quaresma, Roberta Sudbrack., Adriana Didier , Ângela dos Anjos, Nelsa Trombino e Dona Lucinha, são algumas das grandes chefes conhecidas internacionalmente. Sem contar as quituteiras sem nome, em quase todas as esquinas, como Tia Lu - que faz a melhor tapioca no Alto da Sé, em Olinda e Dadá em Salvador, com seu saboroso acarajé.

Em 1989, o segundo ano do mundialmente famoso concurso de cozinha que leva o nome de Bocuse D’Or, realizado em Lyon, uma luxemburguesa ganhou o primeiro lugar.

Neste momento, a sensação de Paris é Hélene Darroze, com seu espaço gourmet praticamente no centro do Quartier Latin. Sua carreira está sendo vertiginosa, pois em pouco tempo conquistou estrelas no Michelin, e agora já inaugurou uma nova casa em pleno centro de Londres.

Para homenagear essa maioria feminina que está ingressando neste glamouroso mercado de trabalho um destaque especial se faz necessário:

a figura marcante de Dona Joaquina do Pompéu, apelidada de Sinhá Brava que deu origem ao primeiro núcleo organizado da civilização agrária das Gerais, de onde corriam a pé escravos-correios para Vila Rica e São Sebastião do Rio de Janeiro, e de que partiam, gemendo, tropas e tropas carregadas de gêneros para matar as fomes da Corte. Vice-Reis da Colônia, Capitães-Generais Governadores da Capitania, o Príncipe Regente Dom João e o Príncipe Regente Dom Pedro é que pediam à sertaneja a mercê de servi-los.

Á Professora Eda Machado, representada pelo Diretor Acadêmico Professor Teobaldo Rivas, grande empreendedora, que teve a sensibilidade de perceber a carência de um curso de alto nível em gastronomia, nossa admiração e respeito.

Ao querido Paraninfo Professor Bruno Rappel, nosso carinho e gratidão pelo exemplo de profissional dedicado, exigente e competente.

Um agradecimento caloroso e especial aos nossos exímios professores homenageados nesta cerimônia, grandes chefes e cozinheiros que, com paciência e generosidade, nos ensinaram as mais modernas técnicas no preparo dos alimentos e nos transmitiram a arte do refinamento das cozinhas de todo o mundo.

Nas pessoas dos professores Sebastián Parasole, Cláudia Brochado, Diego Montelongo, Rachel Caetano e Antonio Duarte que nos iniciou no mundo encantado dos vinhos, homenageamos a Diretoria do IESB,demais professores e funcionários que a nossa querida Valéria representa nessa cerimônia.

Aos meus queridos colegas, dedico uma mensagem da grande poetisa e doceira Cora Coralina:

Aninha e suas pedras

Não te deixes destruir...
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Muito obrigada!!!!"


Petit gâteau au chocolat - Receita Chez Cátia

Ingredientes

1 1/4 xícara (de chá) de manteiga sem sal;

3/4 xícara (de chá) de açúcar;

3/4 xícara (de chá) de farinha de trigo;

250 gramas de chocolate meio amargo em pedaços;

5 gemas;

5 ovos;

1 colher (de chá) de essência de baunilha ou rum (se desejar).

Modo de Preparo

Unte com manteiga 12 formas de 7 cm de diâmetro e reserve.

Aqueça o forno em temperatura média.

Em um bowl apoiado sobre uma panela com água quente (não fervente),

derreta o chocolate e a manteiga, mexendo delicadamente.

Em um bowl grande, misture as gemas com os ovos e o açúcar. Junte

o chocolate derretido e a farinha aos poucos, mexendo bem.

Distribua a massa nas forminhas sem prenchê-las por completo.

Asse por até 15 minutos em forno pré-aquecido e na temperatura

máxima. Os gateaux estarão prontos quando as bordas estiverem assadas

e o centro apresentar textura mole ao ser pressionado com o dedo.
Retire do forno e desenforme.

Dica:

Se desejar, sirva com sorvete de creme ou baunilha. Unte as forminhas

com manteiga e cacau em pó, que dará um efeito melhor, não use achocolatados.